Notícia publicada na edição de 26/12/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 001 do caderno D - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
"Meta dada é meta cumprida". O lema da engenheira civil Ayla Souza, de 25 anos, pode ser estendido para toda a equipe feminina que lidera os trabalhos das obras da Arena Pernambuco,estádio multiuso com capacidade para 46 mil pessoas que está sendo construído no município metropolitano de São Lourenço da Mata, a 19 quilômetros do Recife. A arena será um dos palcos da Copa do Mundo de 2014, com a realização de cinco partidas.
"Estou morando aqui", afirmou a engenheira, responsável pelos pré-moldados e centrais de concreto. Ela tem trabalhado de domingo a domingo, em ritmo acelerado. Ayla integra um time de engenheiros em que as mulheres são maioria (9 x 8 para elas), orgulhosas por estarem à frente de uma obra que, esperam, dê muita alegria aos brasileiros. "Tem engenheiro que nasce e morre e nunca passou por um estádio de futebol", observou Dayelly Fusari, de 30 anos, sentindo-se privilegiada. "É uma obra para o mundo".
Em 2010, já contratada pela construtora Odebrecht para responder pelo planejamento da Arena da Copa, ela assistiu a jogos no Soccer City, em Johannesburgo, na África do Sul, e não cansava de olhar e verificar cada detalhe do estádio e de se encantar com o "espírito" de Copa do Mundo.
Dayelly, que adiou um doutorado na Itália para integrar a equipe responsável pela construção do estádio, começou o seu trabalho no local quando tudo era mato e solo rochoso, com muita pedra a ser explodida para dar lugar à construção.
Foram retirados 300 mil metros cúbicos de rocha - o equivalente a 109 piscinas olímpicas - em "40 eventos de desmonte", quando toda a área e entorno foram evacuados para a colocação dos explosivos. "Não houve acidentes e nenhum tipo de problema com as comunidades durante esses eventos", destacou. "Planejamento é isso e abrange cada etapa da obra, do solo à colocação de torneiras, da compra de material à produção, tudo dentro do cronograma estipulado".
Ayla Souza complementa, entusiasmada, que o concreto é o coração da obra e que até o final de maio do próximo ano deverão ser fabricados 1.800 pré-moldados entre vigas e degraus. Ela controla a chegada de todos os insumos, faz toda a programação de concreto da obra e sua aplicação. "Adoro o que faço, nasci para isso".
Coragem
Nenhuma das moças se assusta com o desafio. Dayana Florentino, de 40 anos, responsável pelo setor de controle de qualidade, já passou pela usina nuclear de Angra 2 (RJ), pela hidrelétrica de Itapebí (BA), pelo Porto de Itaqui (MA) e pelo sistema de irrigação de Maracaibo, na Venezuela. Especialista em gestão de qualidade na construção civil, segue um ritmo pesado - cerca de 10 horas de trabalho por dia, de segunda-feira a sábado
Dayelly já trabalhou em Angola. Ayla, por sua vez, participou da construção da estação de tratamento d"água da Barragem de Pirapama, no município metropolitano do Cabo de Santo Agostinho, também em Pernambuco.
Também não as amedronta a intensificação dos trabalhos visando à Copa das Confederações. Dayelly já cansou de virar noites acordada, sonha com a obra e, neste momento, sua vida pessoal foi relegada a terceiro plano. Só viu o noivo, que também é engenheiro e trabalha atualmente em Angola, três vezes durante este ano.
Diretor de contrato da Odebrecht, Bruno Dourado, que há 28 anos acompanha obras, assegura que a Arena da Copa chama atenção pelo número de mulheres. São 37 no setor administrativo. "Salta aos olhos", afirmou, ao lembrar que outra mulher, a engenheira Chyntia Melo, foi a responsável pela fundação da obra.
Presença na construção civil
Embora minoria, as mulheres também estão presentes no setor de construção civil da Arena Pernambuco. Cylene Inácio Vanderlei dos Santos era professora do ensino fundamental em uma escola Serra Talhada, onde nasceu, no sertão pernambucano. Quando o contrato com a escola terminou, há dois anos, ela decidiu fazer um curso de carpintaria. Estreou na nova função nas obras da Ferrovia Transnordestina. "Adorei", contou. "Serrar e bater prego é muito melhor que o trabalho na sala de aula. Eu não volto a ser professora."
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